Autor de 'Milla' entra com ação por danos morais contra deputada
- 31/12/1969
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Manno Góes, compositor de "Milla", entrou com uma ação na Justiça da Bahia contra a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). Ele pede indenização por danos morais e materiais pelo uso da música em um vídeo que mostra Netinho cantando o refrão em um ato pró-Bolsonaro.
Tudo começou quando a deputada filmou Netinho cantando a música na Av. Paulista, em São Paulo, no sábado (1). O autor da música, Manno Góes, não autoriza o uso da canção — e notificou a deputada para tirar o vídeo do YouTube.
A deputada não tirou o vídeo, e o compositor pede na ação protocolada na noite desta sexta-feira (7):
- A retirada imediata do vídeo com a música do YouTube, sob pena de R$ 5 mil por dia.
- R$ 100 mil por danos materiais pelo uso da música, que deveria ter sido licenciado pelo autor previamente.
- Mais R$ 100 mil de indenização por danos morais por usar a música do compositor "com vinculação forçada à ideologia e figura política da ré (Carla Zambelli) sem que sequer fosse lhe dada a oportunidade de opinar ou negar a utilização de sua composição".
A deputada diz ao G1 que aguarda a notificação da Justiça para se manifestar.
Como 'Milla' foi da Ilha do Sol à Justiça?
A manifestação no sábado teve aglomeração e pedido de intervenção militar. Em cima do trio, diante do público com faixas como "Nós te autorizamos, presidente", Netinho entoou o refrão da música que ficou famosa na década de 1990 na sua voz: "Ô Mila, mil e uma noites de amor com você / Na praia, no barco, no farol apagado..."
No sábado, Manno Góes escreveu no Twitter: "Netinho ontem cantou Milla no ato em que pessoas brancas, na Paulista, gritavam 'eu autorizo', para Bolsonaro. Autorizam o quê? Golpe militar? Portanto, eu não autorizo esse débil mental de cantar minha música."
No domingo (2), Manno enviou uma notificação extrajudicial para que Carla Zambelli tire o vídeo do ar. "Eu não posso proibir ninguém de cantar uma música minha. O que o autor tem direito é de impedir de que essa música esteja vinculada com uma forma de divulgação que ele não concorde", diz o compositor ao G1.
A deputada disse ao G1 na segunda-feira (3) que está analisando a notificação com seus advogados e "pensando" no caso por causa do post que ela classifica como "deselegante" no Twitter. "Eu estou pensando duas vezes em tirar esse vídeo e pensando sinceramente, em, entre aspas, 'ir para o pau'. Porque a forma como ele tratou o Netinho me incomodou muitíssimo", diz a deputada ao G1. Netinho não quis comentar o caso.
Manno Góes já fez parte da banda Jammil e é autor de diversos sucessos do axé, como "Praieiro", "Acabou" e "Milla", composta em parceria com Tuca Fernandes e gravada por Netinho em 1996. Ele diz que não quer barrar Netinho de cantar a música em sua carreira.
O G1 entrou em contato com Tuca Fernandes para saber a posição do coautor sobre o uso da música, e não teve resposta até a última atualização deste texto.
"Não é censura. Ele não está impedindo de fazer shows e tocar música para seus fãs. O que não pode é utilizar uma obra com finalidade política. Para isso há uma necessidade de autorização", diz o advogado de Manno, Rodrigo Moraes.
"O que a deputada Carla Zambelli faz é lastimável: uma pessoa que, mesmo que notificada, continua com o vídeo. Uma parlamentar que é a primeira a rasgar a lei de direitos autorais", diz o advogado.
Carla Zambelli diz que pensa em manter o vídeo no ar, e critica o uso do termo "débil mental". "Não se trata ninguém dessa forma. Eu não trato nem meus inimigos dessa forma. Então talvez eu não atenda o pedido dele e espere ele me acionar na Justiça. Aí a gente vê como a gente resolve", diz a deputada.
Nesta segunda-feira (3), antes de Zambelli comentar o caso, Manno Góes escreveu no Twitter: "Compreendo e peço desculpas a todos por ter usado 'débil mental' para me referir ao cantor golpista. Agradeço a todos que me chamaram atenção, mesmo apoiando meu desabafo. Estamos aqui para aprender e melhorarmos como pessoa. É o que quero pra mim: aprender, evoluir, consertar".
"É um reconhecimento de um uso indevido de uma expressão que não deve ser usada", ele disse ao G1.
Daniela vai regravar em apoio a Manno
Com a repercussão do caso, Daniela Mercury manifestou apoio ao compositor: "Manno Góes, meu amigo querido! Eu entendo a sua agonia! Por isso, vou gravar 'Milla'. Essa música é amor, é liberdade! 'Milla' é nossa", ela disse.
'Milla' para Trump
Essa não é a primeira vez que Manno Góes desautoriza o uso político de "Milla" na voz de Netinho. O advogado dele conta que, em 2020, o cantor usou a música em um post em que apoiava a eleição de Donald Trump nos EUA. "Fizemos a notificação e nesse caso ele tirou na hora", diz Rodrigo.
Fonte: G1